GUERRA E CLIMA ESPACIAL

COMO UMA GUERRA PODE AFETAR O CLIMA ESPACIAL

Por: Claudia Medeiros

Créditos da imagem: US Govt. Defense Threat Reduction Agency.

Hoje é 24 de fevereiro de 2022, mais de 76 anos nos separam do lançamento da primeira bomba nuclear que destruiu amargamente as cidades de Nagasaki e Hiroshima no Japão. Seu poder destruidor já era um temor na comunidade científica e de fato se tornou uma arma de Guerra devastadora que assustou a sociedade de tal forma que desde então não foram mais usadas em batalhas armadas. Isso não impediu que fossem desenvolvidas como armas pelas grandes potências mundiais como Estados Unidos e antiga União Soviética (agora Rússia), com a desculpa de autopreservação, o que não condiz com o critério de utilizá-las em uma guerra. Em breve vou explicar o porquê.

A energia gerada por uma cadeia de eventos de um processo de fissão nuclear, que é o princípio básico de funcionamento de uma bomba nuclear foi então disseminada como possível fonte alternativa de energia. Bastava apenas aprendermos a conter seus resíduos e equilibrar o aquecimento gerado nesse processo. Uma vez sob controle, de fato a energia nuclear é uma fonte “limpa” de energia. Porém, eventos causados por falhas humanas ou por desastres naturais mostraram que o controle da energia nuclear ainda é tema para muita discussão. O desastre ocorrido em 1986 na cidade de Pripyat na Ucrânia, quando o núcleo da Usina de Chernobyl ficou exposto, destruiu toda a cidade e o entorno causando mortes e ainda até hoje oferecendo risco devido a exposição a radiação ionizante do principal elemento utilizado para o processo de fissão, o Urânio. Outro evento importante foi o desastre ocorrido em Fukushima. Um tsunami atingiu a região da instalação de uma das usinas nucleares e os abalos geraram vazamento de contaminantes. A usina e o entorno foram isolados, mas ainda assim mesmo em outro continente como na América do Norte, os Estados Unidos puderam medir um aumento dos níveis de radiação devido a essa exposição. Em ambos os incidentes citados, os critérios de contenção não foram suficientes para evitar que a atmosfera carregasse consigo a radiação em níveis acima do considerado normal para a vida humana.

No caso de uma guerra nuclear, onde o objetivo não é exatamente conter, mas sim tornar mais eficiente o dano causado por uma bomba nuclear, esses efeitos tendem a ser ainda maiores. A guerra em si é um problema. Não entrarei no mérito aqui dos motivos que levam líderes à guerra e nem do quão insano isso me parece, ainda nesse nível de evolução e conhecimento da vida, criarmos batalhas entre seres humanos. Mas, vamos extrapolar esse raciocínio, partindo do princípio de que o homem decidiu explorar o efeito da bomba nuclear numa batalha como a que se inicia hoje. No dia de hoje, a Rússia está invadindo a Ucrânia, reivindicando um território que foi pactuado ser independente. Depois de mais de 80 anos sem eventos de sub julgamento por invasão, de um país pelo outro, quebrando todos os pactos firmados, temos um estado de guerra instaurado na Europa. Só para lembrar, a Rússia é portadora de um arsenal de bombas nucleares e digamos, não podemos contar com a palavra de que não vão usar todas as forças necessárias para obterem o que desejam.

Mas e se uma bomba nuclear fosse utilizada hoje em solo terrestre? O que podemos esperar? De fato, a primeira opção é uma destruição em massa. A morte de seres humanos é o ápice da maldade que uma bomba pode gerar. Poderia começar com um efeito local, mas poderia também ser desencadeado por outros países, retaliações que de fato ampliariam o risco mundial. Em caso de efeito local, além das mortes e doenças degenerativas, temos mais uma vez a destruição de espaços habitáveis para seres humanos que, com o efeito da radiação, criam zonas de isolamento.

Outro fenômeno seria a exposição atmosférica a essas partículas radiativas, que estão naturalmente em estado dormente na natureza, passando a dispersão por correntes de massas atmosféricas(ventos) para todo o planeta.

E aqui vem um evento pouco explorado, mas já conhecido por ter sido mensurado, a geração de anéis de radiação artificiais. Em 1957 Nicholas C. Christofolis observou pela primeira vez diversos efeitos geofísicos em altas altitudes produzidas pela detonação de uma bomba atômica. A geração de um anel de elétrons de alta energia aprisionados pelas linhas de campo magnético na atmosfera superior. Os elétrons eram oriundos de decaimento radioativo da fissão nuclear promovida pela bomba. O experimento Argus, conduzido por W. K. H. Panofsky foi lançado para medir a radiação natural e a artificial injetada pelo próprio instrumento. Quando o instrumento depositava elétrons de alta energia, associado ao campo magnético na região, davam origem a uma espécie de "torus" com partículas aprisionadas pelo campo magnético. Em 9 de julho de 1962, testes nucleares feito em altas altitudes (Dezenas a cerca de 400 km) acima da Ilha Johnston no centro do Oceano Pacífico, demostraram que o primeiro efeito gerado é a onda de choque hidromagnético capaz de alterar o ângulo de arremesso dos elétrons dos cinturões externos de radiação fazendo com que esses adentrassem a atmosfera já nos primeiros 20 segundos após a detonação da bomba. Normalmente esses elétrons permanecem aprisionados em regiões acima de 20.000 km, adentrando a atmosfera apenas em eventos específicos e ainda em regiões específicas próximas aos polos terrestres.

Outra reação é o surgimento do torus de partículas acima de 600 km que permanece sobre a região sendo alimentado por fragmentos remanescentes do decaimento causado pela fissão nuclear. Esse torus pode permanecer ativo por mais de um dia e no caso desse experimento, promoveu posteriormente uma precipitação dessas partículas na região da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, região onde o campo magnético sobre redução expressiva tornando a assim mais vulnerável. A maioria dos fragmentos da fissão nuclear acabaram por ser confinados pelo campo magnético da Terra em regiões próximas a 1000 km acima da ilha. O espectro de energia amplo mostrou que diferentes níveis de energia produziram diferentes aspectos de ionização na atmosfera. A ionização na atmosfera pode causar perturbação local alterando os padrões de condutividade na ionosfera e alterando assim a propagação de ondas. Nesse caso, foram relatadas perturbações nas ondas VLF.

Hoje, temos uma dependência tecnológica do uso do espaço para comunicação. Nossos equipamentos vêm sendo preparados para as demandas conhecidas do ambiente espacial o qual estarão, porém, efeitos adversos de fenômenos dessa magnitude, podem afetar inclusive nossos sistemas de transmissão e comunicação.

Meu objetivo aqui nesse texto é trazer um pouco de informação sobre o que eventos utilizando bombas nucleares podem afetar no ambiente atmosférico. Esse texto é preliminar e pode não ter contemplado todos os aspectos fundamentais para o entendimento da dimensão do problema. Ainda assim, resolvi falar sobre ele para que, como cientistas, fiquemos alertas e assim, possamos unir forças para elucidar as questões envolvidas no uso de bombas nucleares para todas as pessoas inclusive nossos governantes que talvez não tenham conhecimento da dimensão do problema.

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